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a geração.

Não tenho problema algum com reality shows. Esporadicamente sigo, talvez por uma questão de observação comportamental e até porque gosto de perceber as razões que movem as pessoas a escolher este tipo de formatos, tanto para assistir como para concorrer, mas não estão de todo na minha eleição programática por duas razões: Primeira perco rapidamente a paciência e segunda, já “não posso” com a Teresa Guilherme.

No entanto, como disse anteriormente, há um fator determinante que me leva volta e meia a ter que espreitar: Curiosidade. E não é curiosidade pelo jogo, pelo desenrolar ou por quem vence o prémio final. Não gosto de galas, de diários e acredito que sejam programas manipulados consoante os interesses da produção. A minha curiosidade passa essencialmente pelos participantes.

Eu serei sempre uma defensora das pessoas. Não concordo que sejam banalizadas ou discriminadas pelas suas opções e o facto de participarem neste tipo de formatos não define se são mais ou menos inteligentes, cultas e interessadas. Como disse, são jogos manipulados. Mas tudo muda quando se permitem assumir algumas informações, que marcam de todo a sua imagem e o seu percurso de vida. E a verdade é que algumas me deixam bastante chateada. Eu durmo. Mas é caso para me deixar numa preocupação e passo a explicar.


Nesta última invenção da TVI, o Love on Top (que ainda não percebi de todo como funciona) a minha mãe, que é espectadora e que sabe a filha que tem, já deu início aos relatos pós galas sobre o que envolve a “trama”. Quem é quem, de onde são, quem tá apaixonado por quem, esse tipo de informações (super) válidas. Mãe que é mãe é assim (eu não serei obviamente ;) ), mas de todas as elucidações que fez, chamou-me à atenção o facto de nesta última gala ou direto (não sei bem), ter estado presente a mãe de uma das concorrentes, bastante vistosa por sinal. Ora, eu curiosa por natureza (ou não fossemos descobridores em tempos áureos) fui ver esse pedaço específico da trama.

De tudo o que vi e ouvi, não foi a vestimenta da senhora que me causou espécie e sim o seguinte diálogo:


TG: O que é que sonha para a sua filha? Porque eu tenho ideia que disse que a Alexandra tinha que arranjar um noivo com dinheiro porque ela gosta de uma vida top, isso é o que a Alexandra quer ou o que a mãe quer para a Alexandra?

MÃE: Não, é a vida que ela tá habituada a ter não é.


Bem! Confesso que tive que fazer replay, de tão confusa que fiquei. Então, a menina, que está na casa dos 20 anos, tem uma “vida top” habitualmente e a única forma que a mãe encontra de ela a continuar a ter é encontrando um namorado rico.

Primeira questão: O que é uma “vida top”?

Segunda questão: Será que a mãe fez igual para dar uma “vida top” à filha?

Mas o meu espanto não é bem este. É mais: Que raio de educação é esta? Para que tanto debate em torno de questões feministas, direitos humanos e igualdade salarial? Ficamos pelo século XIX e eu não percebi? Que evolução é esta? E as palavras: trabalho, emancipação e amor-próprio? Não fazem parte do vocabulário destas pessoas?

Eu sei que são muitas questões. Mas não consigo deixar de ficar estupefacta com este tipo de posições. O meu entendimento é limitado para perceber quais as razões que movem uma mãe a colocar esta expectativa na filha e eu sei que os pais por vezes exercem pressão sobre os filhos (mesmo que inconscientemente) para se tornarem aquilo que eventualmente eles gostariam de ter sido um dia.

A minha preocupação não é especificamente com a Alexandra. A minha preocupação é com todas as Alexandras deste país, que consideram que a melhor forma de estarem bem na vida é rumarem por caminhos mais fáceis.


Alguém que lhes explique determinados pontos:

1º A juventude não é eterna, a jovialidade, a capacidade de treinar a mente e de se reinventarem sim;

2º Uma vida inteira com alguém, só por dinheiro, é muito tempo;

3º Há alturas na vida em que o mimo do amor é bem mais determinante que um par de sapatos;

4º Mesmo assim, não há nada melhor que comprar todos os sapatos do mundo com um rendimento ganho por nós, do nosso trabalho;

5º Depende de nós e só de nós (mulheres) uma verdadeira emancipação e a luta para que alcancemos o nosso sucesso pessoal;

NADA, MAS NADA COMPRA O NOSSO AMOR-PRÓPRIO.


Agora as minhas questões são: Se esta geração se deixa levar por estes valores, qual o modelo que serão e darão aos seus filhos?

E nesta continuidade, país estamos a construir? Que futuro?

O facto de não haver emprego e de se ter consciencializado que “estudar não vale a pena” é um dos causadores desta linha de pensamento?


As questões ficam em aberto. Contínuo à procura de as responder, mas provavelmente nunca terão resposta. O que é certo, é que somos supostamente um país desenvolvido, mas isto ainda acontece e segundo se consta cada vez mais.


Dá que pensar. Dá mesmo que pensar.


O BLOG

Já dizia Chico Xavier "Isso 

também passa". Pouco me importa que seja uma figura controversa. A verdade e que a vida se constrói de momentos, de emoções, de imagens e de palavras. 

A vida e este blog também. 

SUSANA FERREIRA

25 anos

Braga

Benfiquista

 

 

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