O David.
- issotambempassa
- 23 de dez. de 2015
- 1 min de leitura
Já senti o peso da impotência nas mãos. Travar uma luta com Deus para que a direção seja a inversa. Numa questão de minutos uma vida muda. Várias vidas mudam. Ficas sem chão. O mundo para. Tudo à tua volta se move, mas tudo dentro de ti fica imóvel. Aquele minuto corresponde à tua vida inteira.
Ainda assim, não consigo imaginar o peso da impotência nas nossas mãos quando a guerra deixa de ser divina e é com um Hospital. Aquele que supostamente seria a nossa esperança. Não consigo ficar indiferente. Não consigo adormecer sem pensar se por acaso fosse o meu amor a ali estar. Não consigo deixar de procurar soluções para acalmar a dor de uma pessoa que nem conheço. Porque sou mulher. Porque sei o que é amar. Mas não encontro. Baixo os olhos e penso: Como seria o resto da minha vida se vivesse com uma injustiça destas na minha memória? Não negaram só o auxílio ao David. Negara-lhe a possibilidade de continuar a viver, quando havia essa hipótese! De repente, a Elodie ficou sem o amor da sua vida. Já não vão mais viver juntos, já não vão mais ter filhos juntos, já não vão mais viajar juntos, já não vão mais adormecer nem acordar juntos, já não vão poder sonhar com uma velhice juntos. E não há palavras. Não há palavras que se possa dizer, porque não há justificação. Não foi uma paragem cardíaca. Não foi um acidente. Não foi um AVC. Não foi doença prolongada. Foi simplesmente a falta de assistência médica.
O meu entendimento nunca será suficiente para alcançar este desfecho. Nunca.
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